terça-feira, 30 de setembro de 2008

Em uma aula de Dança de Salão...

A motivação em postar mais algumas reflexões sobre corpo, dança e proxêmica, veio de uma aula de Dança de Salão (DS) em que eu e a professora Lidiani ouvimos de uma aluna (no caso a Débora) a sonora frase: eu queria melhorar o meu corpo.
A partir daí a aula já estava encaminhada num assunto que, "haja manga pra tanto pano"... Aula esta que teve direito a continuação na Cantina do Vinho e nas caronas até a casa de cada um.

Então, com base na sonora frase da Débora foram inevitáveis algumas reflexões. Que corpo é esse que ela quer melhorar? Eu posso melhorar um corpo? Melhorar em quê?
Bem, nessa aula (de Dança de Salão, mais especificamente de Samba de Gafieira) apontamos dois possíveis caminhos para alcançar tais expectativas, o corpo externo (o corpo que aparece e sabe que é observado e visto) e o corpo interno (aquele que sente e se relaciona com o parceiro). Acabamos por escolher este último.

Ao dançar com alguém (lembrando que estamos falando de DS, mas poderíamos talvez estender para o contato e improviso) estamos mantendo contato com ela, seja na distância íntima (ver Proxêmica) com o contato corporal e até mesmo em outras distâncias, através de gestos, fala e olhares.
Esse alguém é de carne e sonho, e desprezar seus sentimentos, suas angústias, sua expressividade e suas necessidades é jogar a dança no lixo. E para entender o corpo do outro é preciso "penetrá-lo".
Quando danço com alguém eu sempre penso em "penetrar" parte do meu corpo nessa pessoa. E é claro que é preciso deixar de lado a malícia da palavra, porque o fator penetrante da dança diz respeito a dividir os mesmos espaços, e claro, dividir emoções. Se a matemática da DS diz que 1 + 1 = 1, posso ainda arriscar que, para mim 1 + 1 = 1,5. Sendo que 0,5 é o fator penetrante da dança, é a parte que temos em comum, o restante é parte da individualidade de cada um.
Esse conteúdo nada mais é do que o desenrolar daquilo que o Luiz e a Catarina já haviam falado há tempo. Eu sou um corpo que ao entrar em contato com outro me modifico para poder entendê-lo. Mas como vou fazer isso?


Eu sinto e é fácil de qualquer pessoa perceber isso. Por exemplo, quando você abraça uma pessoa e esta te recebe com suas articulações dos braços e coluna bloqueadas. Por mais que tu venhas com todo o amor do mundo é impossível "penetrar" nessa pessoa, dessa forma é impossível conhecê-la, impossível dividir emoções. Entretanto ao soltar um pouco mais as articulações (principalmente rombóide e coluna) ao abraçar alguém de mesma intenção, seja para dançar ou não. acontece uma interpenetração, uma troca de sensações.
Portanto ao meu ver, para melhorar o corpo interno na DS, é preciso entender e aplicar o fator penetrante da dança.




Aí me pergunto, se melhorar meu corpo interno, será que é preciso melhorar meu corpo externo?


Um grande beijo para todos que comentam e em especial para minha linda Cacá, sem ela, essas reflexões não sairiam do mundo das idéias!

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Proxêmica

Há algum tempo tenho refletido sobre como a distância física interfere nas relações interpessoais. E é louco isso!
Por que será que quando nós entramos num ônibus ocupado por apenas um passageiro a nossa tendência é sentar o mais afastado possível dela? Por que o professor ao chegar na sala de aula, geralmente encontra os alunos ocupando as carteiras do fundo da sala? Por que os alunos de Dança de Salão se afastam tanto quando vamos demonstrar algum movimento no centro da sala?
Ao estudar Dança na FMH de Lisboa, deparei-me com um novo termo que falava justamente disso:
a PROXÊMICA
Esse termo foi citado pra mim pelo professor Daniel Tércio, mas foi criado por Edward T. Hall que definiu como o "conjunto das observações e teorias referentes ao uso que o homem faz do espaço enquanto produto cultural específico".
Hall demonstrou que a distância social entre os indivíduos pode ser relacionada com a distância física. Nesse sentido, menciona quatro tipos de distância: Distância íntima (0-45cm); Distância pessoal (45-120cm); Distância social (1,2-3,4m) e Distancia pública (acima de 3,5m).
Então temos palavra nova. E eu adoro palavras novas.
Já pensou em qual distância você se relaciona? Já pensou em qual distância sua arte se relaciona com seu expectador?

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Música da Semana

Foi no próprio show de Jorge Drexler que me chamou a atenção uma canção que ainda desconhecia. Não sei se o que de fato prendeu minha atenção foi o apelo visual da iluminação, ou a teatralidade da execução, ou o timbre de Drexler, ou o cheiro da Cacá ao meu lado, ou, ou, ou...

A questão é que na hora não tive tempo de conectar letra e melodia a ponto de já ter a certeza de que seria uma canção para rondar minhas favoritas.



Baseado no relato autobiográfico “El Pianista del Gueto de Varsovia” de Wladislaw Szpilman.





El Pianista del gueto de Varsovia
Jorge Drexler


Dos generaciones menos
dos generaciones más
Fechas, tan sólo fechas
Yo estoy aquí, tu estabas allá


El pico y la pala, el hielo en los dedos
te estás jugando las manos...
El mundo se muere y tu sigues vivo
porque recuerdas tu piano

Compás por compás, en el frío del gueto
vas repasando el nocturno en Dó Sostenido Menor de Chopin, en tu memoria

Si fueras tu nieto y yo fuera mi abuelo
quizás, tú contarías mi historia


Yo tengo tus mismas manos
Yo tengo tu misma historia
Yo pude haber sido el pianista del gueto de Varsovia


Dos generaciones menos,
dos generaciones más
Fechas, tan sólo fechas
Yo estoy aquí, tu estabas allá


Y el mundo no aprende nada,
es analfabeto y hoy suena tu piano,
solo que en otros guetos

Si yo estoy afuera y tu estabas adentro fue sólo cuestión de lugar y de momento
Yo tengo tus mismas manos
Yo tengo tu misma historia
Yo pude haber sido el pianista del gueto de Varsovia


Dos generaciones menos
dos generaciones más
Fechas, tan sólo fechas
Yo estoy aquí, tu estabas allá